Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro - UNIRIO
Instituto Villa-Lobos - IVL
IORQ - Prof. Guilherme Bernstein
Regras para a confecção de material de orquestra
- partitura (grade) + partes cavadas -
Não se trata de dicas, porém efetivamente de regras,
baseadas nas melhores práticas das editoras de música dos últimos dois séculos.
Uma boa parte instrumental não contém apenas as notas determinadas a um instrumento;
é uma guia, por onde o músico pode acompanhar com facilidade todo o discurso musical,
inclusive durante seus momentos de contagem.
-
Páginas ímpares à direta, páginas pares à esquerda. Sempre.
-
Todas as páginas devem ser impressas frente e verso.
-
Todas as viradas de página se encontram nas páginas ímpares.
-
Prepare as viradas de página das partes cavadas com compassos em branco ou pausas múltiplas no último sistema da página para dar tempo ao músico de virá-la. Coloque quantos sistemas forem necessários na página, use a página só até a metade ou até mesmo coloque uma página ímpar inteira em branco, mas dê tempo ao músico de virar a página.
-
Por melhor conveniência, você decide começar a música numa página par. Crie uma página de rosto (portanto página 1) e a música propriamente dita começa na página 2.
-
Toda parte cavada de sopros ou percussão é individual, ou seja, cada músico tem sua parte e apenas a sua parte. Flauta 1 tem sua parte, Flauta 2 tem outra parte, só dela, e assim por diante.
-
Partes cavadas de cordas, quando em divisi com material complexo, devem empregar dois ou mais sistemas. Exceção a intervalos repetidos ou partes simples, perfeitamente isorítmicas etc.
-
Partes de sopros na grade (e apenas na grade, vide n.7) devem, necessariamente, ser escritas aos pares (flautas 1 e 2 no mesmo pentagrama etc.). Partes de trompetes podem ser triplas.
-
Numeração de compasso não substitui número ou letra de ensaio. Use-os no mínimo para marcar seções.
-
Em partes cavadas, a) após muitos compassos de contagem ou b) em trecho complexo, é mais do que aconselhável inserir uma guia/deixa ("cue") ou seja, trecho de algum instrumento importante, reduzido em +/-70% e com a instrumentação claramente indicada, imediatamente antes da entrada. Em obra especialmente longa, deve-se colocar deixas ao início das principais seções. Exemplo
-
Ao criar a guia/deixa, pense em naipes; via de regra, é mais importante para a Flauta 2 saber o que faz a Flauta 1 do que o que faz a viola.
-
O Brasil e toda a Europa utilizam página de formato A4. Os EUA usam Formato carta, que é mais ou menos compatível com o A4. Use A4 para grade e partes. Se utilizar outro formato, imprima você mesmo e forneça o material já impresso.
-
Pelo menos 1cm nas laterais para encadernar etc. Um pouco mais é aconselhável.
-
Não utilize necessariamente o espaçamento de pentagramas padrão, mas otimize o espaço na página para que a leitura das notas seja facilitada, tanto na grade quanto nas partes (siga a
Tabela Rastral
).
Comentários mal-humorados às regras acima
Lembrete eterno:
“O tempo de trabalho que você não emprega para melhorar a qualidade do seu material não desaparece, apenas é transferido para os músicos”
OU
“O trabalho que você economizou ao não melhorar seu material é diretamente proporcional ao tempo perdido no ensaio e à qualidade de execução da sua obra.”
1. Não reinvente a roda e não obrigue o arquivista a decifrar seu material. Abra qualquer livro da sua biblioteca, qualquer partitura, parte cavada ou mesmo seu jornal. Se encontrar algo diferente da Regra 1, mudamos ela agora.
2. Imprima páginas avulsas e você descobrirá que duendes existem e eles fazem desaparecer as partes das estantes. Uma página impressa frente e verso desaparece menos de metade das vezes que duas páginas avulsas. Fato cientificamente comprovado.
3. Novamente, não reinvente a roda; se você não obedeceu à Regra 1, ninguém tem como descobrir que você alterou esse padrão multi-secular de sucesso.
Obs: Com mais e mais músicos usando tablets em substituição às partes em papel, não é má idéia planejar viradas em todas as páginas, pares ou ímpares, independente dos recursos dos aplicativos para virada.
4. Não siga essa regra e, na melhor das hipóteses, você perderá metade das cordas a cada virada de página; na pior você perde várias notas dos sopros a cada virada de página.
Obs: Alternativamente, compassos múltiplos em branco podem ser colocados no início da página par. Mas você já está contando com o músico examinar a parte antes de começar a tocar.
5. O arquivista que recebe seu PDF não pode adivinhar que alguma parte começa pela página 2, já que tudo, por definição, começa na página 1. E, mesmo que descubra, pela sua numeração, ainda terá que imprimir uma página 1; não terceirize seu trabalho.
6. Apenas partes muito simples e de caráter didático podem ser duplas. Mesmo assim, apenas se perfeitamente isorítmicas. Partes triplas, jamais.
Obs: Ok, é possível escrever partes duplas boas, até melhores do que individuais. Veja aqui ou em 10, acima, como - mas veja também que os mesmos aspectos positivos podem ser alcançados por boas guias/deixas.
8. Os softwares atuais frequentemente oferecem um instrumento por pentagrama. Corrija na grade.
9. Imagine-se um trombonista, por exemplo, tendo que saber qual é o compasso 157 no meio de uma pausa de 61 compassos que começa no compasso 123. Só que para o trompetista e para o timpanista as pausas múltiplas começam em lugares diferentes…
10. Seu software tem formas quase automáticas de fazer guias/deixas. Pesquise como e ajude o músico a se situar e a todos a não perder tempo de ensaio. Lembre-se: parte cavada é também uma guia.
14. Releia o lembrete acima e não dê “bolinhas pequenas” para os músicos.
Dicas (agora são dicas mesmo)
- Com a disseminação do uso de tablets/iPads como suporte de partes cavadas, ao invés do papel, não é má idéia colocar viradas em todas as páginas, inclusive as pares - mesmo com os recursos dos aplicativos para facilitar esse trabalho.
- Faça grade e partes com número de páginas pares, mesmo acrescentando página em branco ao fim, por exemplo. Assim se facilita muito a manipulação em impressoras caseiras ou antigas.
-
Numere as partes, no canto superior (esquerdo ou direito), a partir das flautas (ou piccolo) 1/X, 2/X etc., onde X é o número total de partes. As chances das partes desaparecerem diminuem muito e os arquivistas agradecem por facilitar a vida deles. Veja um exemplo da 1a e da última páginas numeradas dos sopros etc. da 1a Sinfonia de Beethoven. É comum encontrarmos numeradas as partes de sopros + percussão etc., mas não é má idéia numerar também as de cordas.
-
Se imprimir o material para todas as estantes de cordas, numere as partes cavadas, no canto superior direito, por estante (1a estante, 2a estante etc.). Os músicos agradecem.